27 maio 2016

Pelo meu direito de ir e vir



Esse post estava no meu rascunho desde 18/03, quando eu ainda estava de férias no Brasil. Acabei deixando, mas agora acho um momento bem pertinente para postar.

Passei aproximadamente 20 dias lá, e se eu tinha alguma dúvida sobre renovar meu visto ou não, elas acabaram junto com o meu medo de ser mulher no Brasil, que eu infelizmente fui obrigada a relembrar.

A dúvida acabou quando eu quis ir na casa da minha vó às 19h, que mora a 2 minutos andando da minha casa, e meu pai teve que me acompanhar até lá porque tinham homens na escada bebendo. Também acabou no mesmo momento em que eu tive que ligar para o meu pai ir me esperar no portão quando quis voltar. 2 minutos da minha casa.

Minha família mora em Rio Negrinho, cidade de aproximadamente 40 mil habitantes no planalto norte de Santa Catarina. O fato é que sendo mulher, você não está segura em nenhum lugar no Brasil. Não importa se a cidade é pequena ou grande.

Não vou dizer aqui que a Irlanda é o lugar mais seguro do mundo, mas eu vou e volto a pé da balada, e se encontro um homem no caminho, não tenho medo de ser estuprada. Aqui é raríssimo alguém mexer com você na rua. As pessoas falam que os europeus são devagar, mas são diferenças culturais. Só entende quem é mulher e quem vive isso.

Eu poderia ficar até amanhã relatando os inúmeros casos de assédio que já sofri no Brasil, dos mais ´inocentes´ aos mais absurdos, como em um dia que um cara me seguiu de carro até em casa só porque eu não quis falar com ele no sinal.

Não é só pela moça de 16 anos que foi violentada por mais de 30, é por cada mulher que é estuprada a cada 11 minutos no Brasil, segundo dados divulgados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública no final do ano passado. Em 2015, o país registrou 47.646 casos de estupros. 47.646 vidas destruídas, eu mesma preferia morrer.

Enquanto eu não posso ir na casa da minha vó assistir a novela com ela sem ter medo de ser estuprada nos 2 minutos do caminho, eu prefiro ficar aqui. Pelo meu direito de ir e vir. Pelo meu direito de ser livre. Pelo meu direito de ser respeitada como mulher.

Triste.




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:*

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